ATA DA QUADRAGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 29.11.1991.

 


Aos vinte e nove dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Sétima Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Edgar Diefenthaeler, concedido através do Projeto de Resolução nº 36/91 (Processo nº 2173/91), de autoria do Vereador Vicente Dutra. Às dezesseis horas e dez minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Vice-Presidente da Casa; Senhor Ildefonso Fonseca do Carmo, Vice-Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Rio Grande do Sul; Senhor Edgar Diefenthaeler, Homenageado, e sua Esposa, Senhora Helena Diefenthaeler, e o Vereador Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”. A seguir o Senhor Presidente pronunciou-se acerca do evento, concedendo a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Vicente Dutra, em nome das Bancadas do PDS, PDT, PT, PMDB, PTB, PCB, PFL e PL, e autor da proposição, discorreu sobre a solenidade, dizendo ser o Homenageado sensível às artes e à medicina. Teceu comentários acerca da vida do Senhor Edgar Diefenthaeler, falando de sua atuação na área da oncologia, em diversos países. Afirmou ser infindável o rol de suas atividades nesse campo da cancerologia, cuja contribuição para um mundo melhor é indiscutível, tornando-o um raro credor daqueles que se valem da medicina para minimizar seus males. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências relativas ao evento, passando-as às mãos do Homenageado, do Governador do Estado, do Coronel Marcos Antonio Vasconcelos; do Senhor João Coelho; do Deputado Estadual Valdir Fraga; e do Secretário Estadual do Meio Ambiente. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega pelo Vereador Vicente Dutra do Diploma de Cidadão Emérito ao Senhor Edgar Diefenthaeler, que agradeceu a homenagem recebida por esta Casa. Às dezesseis horas e trinta e cinco minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para retornarem à Sala das Sessões, onde estava sendo realizada Sessão Extraordinária. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário. 

 

 


O SR. PRESIDENTE: Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene que é destinada a conceder o Título de Cidadão Emérito ao Dr. Edgar Diefenthaeler. Esta homenagem foi solicitada pelo Ver. Vicente Dutra e aprovada pela unanimidade dos Vereadores da Casa, em virtude dos trabalhos prestados pelo Dr. Edgar na área de cancerologia.

Com a palavra o Ver. Vicente Dutra, que falará em nome da sua Bancada, o PDS, e de todas as demais Bancadas com assento nesta Casa.

 

O SR. VICENTE DUTRA: (Lê a relação dos componentes da Mesa.) A Câmara Municipal de Porto Alegre tem prestado, aqui, desta tribuna, sucessivas homenagens a cidadãos que, por uma ou outra razão, se destacaram em suas atividades em favor da comunidade. Tem sido rotina - e não poderia ser de outra forma - arrolar-lhes os títulos que, ao longo da vida profissional, acumularam como conseqüência de suas aptidões, talento e denodo.

Isto, hoje, no caso do Dr. Edgar Diefenthaeler, não nos será possível. Sua seqüência de títulos e de cargos, sem nenhum prejuízo à compreensão da mais alta qualificação que significam, importam em tal quantidade que, se o fizéssemos, limitaríamos esta homenagem a uma mera listagem de conquistas.

Não vou omiti-las, obviamente, mas a par do respeito que nos merece, e que precisamos aqui registrar, o cientista, o médico e o Profº Edgar Diefenthaeler deve ser destacado por sua excepcional capacidade de mostrar-se humano para com os mais necessitados, extremamente sensível às artes, nas quais exibe um raro pendor para a música, e um companheiro incomparável.

Nascido em Porto Alegre, em 22 de julho de 1916, filho de Adolfo e Guilhermina Diefenthaeler, é casado com a Drª Ana Helena, é pai de quatro filhos e tem dez netos, uma das quais, a também médica Liliane Diefenthaeler, o acompanha, já há algum tempo, no sacerdócio da medicina, especializada, como ele, em oncologia.

O Dr. Edgar Diefenthaeler graduou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1942, e já dois anos mais tarde foi nomeado médico auxiliar da Santa Casa de Misericórdia, onde, numa exuberante e reconhecida carreira, foi chefe de clínica na Enfermaria Onze, cirurgião do serviço de câncer, chefe do serviço de cirurgia, de onde galgou a condição de Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Fundação Católica de Medicina de Porto Alegre na disciplina de Cirurgia Geral.

Em 1965, foi nomeado Vice-Diretor do Hospital Santa Rita, dando início a um invejável processo administrativo que colocou aquele hospital à frente dos melhores serviços médicos prestados à população de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul.

Acumulou, a partir de então, uma considerável relação de funções e títulos universitários e profissionais, participando de cursos e congressos junto aos mais evoluídos centros médicos do mundo. Tomou parte em encontros que versavam sobre cancerologia em Londres; Moscou; Tóquio; Santiago, no Chile; Buenos Aires; Houston, no Texas; São Paulo; Budapest e de congressos nacionais que se realizaram nas principais cidades brasileiras, desde 1963.

Desenvolveu, ainda, atividades científicas desde 1945, se destacando como Sócio-Fundador da Associação Médica do Rio Grande do Sul, Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Presidente da Sociedade de Cancerologia do nosso Estado, Presidente da Associação Sul-Riograndense de Combate ao Câncer, membro da Comissão de Assuntos Internacionais da Sociedade Brasileira de Cancerologia e Sócio-Fundador da Sociedade Brasileira de Mastologia.

É infindável a relação de atividades do Dr. Edgar Diefenthaeler, cuja contribuição para um mundo melhor é indiscutível, tornando-o um raro credor daqueles que se valem da medicina para minimizar seus males.

A par disso, ele soube tornar-se credor, também, de seus incontáveis amigos. Dessa virtude sou - e me orgulho profundamente disso - testemunha permanente. Companheiro de Rotary Clube, posso atestar sua atenção, gentileza e afeto que dedica aos que, como eu, têm o privilégio de seu convívio. Queira Deus possamos dele desfrutar por muitos e muitos anos ainda.

Uma pequena passagem, a respeito do carinho que lhe devotam os tantos amigos, teve a oportunidade de vivenciar ainda na manhã de hoje. Dizia, eu, a um companheiro comum, que me dirigia, naquele momento, a esta Casa, onde, à tarde, faria um pequeno pronunciamento de homenagem ao Dr. Edgar Diefenthaeler. “Um amigo exemplar”, disse-me ele, “um santo homem”, acrescentou, ilustrando, de modo feliz, os sentimentos que me levaram a propor esta homenagem.

Por essas razões, Dr. Edgar Diefenthaeler, aceite a sinceridade deste reconhecimento que a população de Porto Alegre, por nosso intermédio, lhe faz. Aceite, principalmente, a mais profunda gratidão de todos nós. E aceite, ainda, nossa permanente companhia, carinho e solidariedade na luta que enceta em defesa de uma melhor qualidade de vida para seus semelhantes.

Porque nesta companhia saberemos, sem dúvida, buscar a necessária inspiração para o relevante trabalho social que se constitui no dever de todo o cidadão de bem.

Muito obrigado, Dr. Edgar Diefenthaeler, por tudo que o senhor, o amigo, o companheiro tem feito em prol da medicina., em prol das pessoas que sofrem, um companheiro extraordinário que se destaca em todas as atividades. É um orgulho que tenho, como rotariano e como cidadão desta Casa, e como autoridade, por ser Vereador, de desfrutar da sua amizade e da sua companhia.

Esta Casa, hoje, resgata um título que deveria ter sido dado há muito mais tempo, a uma pessoa que é um herói anônimo, verdadeiros benfeitores da humanidade e que a todo o dia, a todo o momento, desde que acordam até a hora que, cansados, vão recolher-se ao seu lar, só fazem o bem. Que o seu exemplo sirva para outras gerações e para tantas pessoas deste País. Meus cumprimentos e os cumprimentos desta Casa. Muito obrigado.

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa informa o recebimento de telegramas cumprimentando o homenageado, informando da impossibilidade de comparecimento por compromissos anteriores assumidos: Dr. Alceu de Deus Collares, Exmo Governador do Estado do Rio Grande do Sul; General de Divisão, Eli Monteiro Marcondes; Coronel Marco Antonio de Oliveira Vasconcellos, do Comando da 3ª Região Militar; Dr. João Gilberto Lucas Coelho, Vice-Governador do Estado; Sr. Júlio Roberto Hocsmann, Secretário Estadual da Saúde e Meio Ambiente e do Deputado Estadual Valdir Fraga. Passamos às mãos do homenageado.

Registramos a presença, em Plenário, dos Vereadores Omar Ferri e Vieira da Cunha.

Convidamos a todos para que, em pé, possamos assistir à entrega do diploma ao homenageado. (Palmas.)

Concedo a palavra ao Dr. Edgar Diefenthaeler.

 

O SR. EDGAR DIEFENTHAELER: Exmo Sr. Presidente. desta Casa, Ver. Airto Ferronato; Exmo Dr. companheiro Vice-Presidente da OAB; meus amigos que aqui estão presentes, meus ilustres amigos rotarianos, meus familiares e todos que me acompanharam durante esses anos.

Ser condecorado pela Egrégia Câmara de Vereadores com o honroso título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, sensibilizou-me sobremaneira, porque esta Cidade sempre esteve em meu coração. Quando fui levado, no início da minha infância, para o interior, sonhei em um dia regressar a Porto Alegre, era o meu sonho, e consegui realizá-lo aos 18 anos de idade, porque esta Cidade já fazia parte da minha vida. Quando estudante de medicina, e quando interno da Assistência Pública Municipal, naquele tempo o único serviço de urgência de Porto Alegre, percorri os mais distantes recantos desta Cidade, e pude acompanhar, amar, e ver o progresso desta Cidade. Mais tarde, como profissional, trabalhei numa indústria e pude assistir o nascimento dessas vilas que hoje proliferam por toda a parte. E, assim, acompanhei o progresso de nossa Capital. E mais, uma coisa muito curiosa, que as pessoas dessas vilas, - às vezes, atendia de madrugada -, elas sempre me recebiam muito bem, e nunca fui molestado, e, muitas vezes, elas me auxiliavam para localizar a casa onde a pessoa necessitava de atendimento.

Quando médico, dedicava a metade da minha disponibilidade de tempo para atendimento dos enfermos da Santa Casa. Lá atuava um dos grandes professores da época, recordo-me de um, uma pessoa muito ligada a mim, o Dr. Alfeu Bicca de Medeiros, grande cirurgião, a quem devo minha formação cirúrgica. Foi na Santa Casa que também me sensibilizei com o problema do câncer.

Ainda estudante, conheci uma pequena enfermaria, destinada aos doentes de câncer irrecuperáveis. Como tal, eram pouco visitados, quase abandonados. Eu, sensibilizado, ia fazer-lhes visitas. Dentro de minhas possibilidades limitadas, receitava os tônicos, sedativos, calmantes e fazia o mais importante: o diálogo, o conforto da palavra. Isso me marcou e valorizou muito; me sensibilizou muito. Isso me serviu de lição para o resto de minha vida. Hoje, neste momento, recordo desses pacientes com gratidão pela motivação que me deram em dedicar-me a essa especialidade.

Em 1941, o nosso conterrâneo, Profº Mário Groeff, nascido em Campos de Cima da Serra, embora vivendo no Rio, criou o Serviço Nacional do Câncer e a campanha nacional. Aqui, também, foi envolvido o Rio Grande do Sul, pois foi convidado a tomar parte. Então, junto com uma pessoa muito amiga, há mais de 50 anos, o Profº Heitor Cirne Lima, pude acompanhar o trabalho de reformulação e organização do Serviço de Câncer. Na época, o Provedor da Santa Casa era o Profº Ivo Correa Mayer que encarregou ao Profº Heitor de reorganizar os diversos serviços que existiam na Santa Casa; havia vários. Pessoas que trabalhavam isoladamente e procurou-se também, unidos, objetivamente se formar um Centro para tratamento do câncer.

Mais tarde, no início da década de 1950, iniciou-se a construção do Hospital Santa Rita. Está aqui uma pessoa que acompanhou de perto, naquela época, gerente da Casa Louro, ela é testemunha do que estou dizendo. De maneira que se iniciou, assim, a construção do Hospital Santa Rita. Até, então, havia o Serviço de Câncer da Santa Casa. Depois, a construção do Hospital Santa Rita foi difícil, lutávamos com muitas dificuldades, havia momentos de aflição, momentos em que imaginávamos que não seria possível continuar.

Em 1965, iniciou-se o Quarto Congresso Brasileiro de Cancerologia, realizado dentro do Hospital Santa Rita, que marcou praticamente o início das atividades do hospital. Gradativamente foram se ampliando as instalações, e os senhores podem ver, nós deixamos o hospital há dois anos, e como ele está hoje. Há dois anos, o Governo Federal mudou de orientação e o Serviço Nacional do Câncer deixou de existir e a campanha nacional de controle do câncer é apenas um órgão educativo, não tem outra finalidade. Então, para sobreviver, tornou-se muito difícil, a Santa Casa assumiu o controle do hospital. Ele ingressou nesse complexo universitário de que toda a Santa Casa faz parte. Foi a única maneira de sobreviver e a Santa Casa está tentando concluir porque o programa em dois anos concluiu completamente. E isso vai tornar uma realidade o sonho daqueles iniciadores que sempre sonhavam numa grande instituição, que não apenas se limitava a tratar o câncer, mas que também se tornasse um Centro para prevenção do câncer, para diagnóstico do câncer, para as campanhas educativas que a medicina pesquisa e também as campanhas de educação.

Então, esse sempre foi o sonho, e eu acho que dentro de pouco se tornará realidade. Isso esperamos! Foi assim que Porto Alegre, então, tornou-se parte da minha experiência, desde jovem, e é por isso que esta homenagem me toca profundamente e me faz devedor de extrema gratidão a todas as pessoas que para isso contribuíram. E, especialmente, eu devo uma gratidão ao meu companheiro, amigo, apenas relevo amizade recíproca que sempre existiu. Muito obrigado

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 16h35min.)

 

* * * * *